Negligência populacional e fatalismo

Exemplos de negligência

Hall et al. (2017) – The impact of population growth and climate change on food security in Africa: looking ahead to 2050

Hall et al. consideram o futuro impacto potencial do crescimento populacional e das mudanças climáticas sobre a segurança alimentícia de 44 países da África. Seus resultados indicam que o crescimento populacional projetado vai ser um grande fator por trás da insegurança alimentar e de fome no continente. Como solução, proponham estreitar essa lacuna entre demanda e produção pelo amento da produção agrícola e a importação de comida através de tratados de comércio. Os autores negligenciam discutir soluções que visam diminuir ou reverter o crescimento populacional, o papel de políticas de populacionais ou de programas de planejamento familiares. Leia mais sobre a importância de políticas populacionais em solucionarem a insegurança alimentícia africana em nosso blog.

Tilman et al. (2017)- Future threats to biodiversity and pathways to their prevention

Este artigo é uma análise competente do estado de mamíferos e aves globalmente, e dos seus futuros prováveis caso tendências atuais prossigam. Foi publicado no jornal científico Nature. O estudo menciona a atividade humana e o crescimento populacional humano em seu abstrato. Não há, porém, qualquer recomendação dentro do corpo do texto para acabar com o crescimento populacional. em vez disso, os autores rogam para um aumento da produção de comida através de avanços tecnológicos. Dizem “o mundo é capaz de providencia dietas saudáveis para 10 bilhões de pessoas em 2060, e preservar os habitats viáveis para a vasta maioria de suas espécies remanescentes.” Há boas razões para achar que isso não é verdade – começando com o fato que estamos já rapidamente extinguindo as espécies do mundo enquanto providenciamos dietas saudáveis para talvez somente metade desse número hoje. Os autores falam em “políticas que reduzem as ameaças antropogênicas”, mas não mencionam o crescimento ou tamanho populacional.

WWF’s Living Planet Index (2016)

Este relatório é valioso por sua tentativa de atrair atenção a queda da biodiversidade global; também identifica fatores associados a esse declino (veja as páginas 58-59). Entretanto, embora o crescimento populacional humano é mostrado no gráfico, não há recomendações para diminuir ou reverter o crescimento populacional. O leitor, portanto, fica com a noção que o crescimento populacional é inevitável, o que não é. Acabar com o crescimento populacional pode ser a ação mais importante que a humanidade pode fazer para acabar com a perda de biodiversidade – mas os leitores do estudo (além dos que prestam atenção aos debates da grande mídia) nunca saberiam disso. O estudo também fala em “pegada ecológica” somente numa base per capita e não o acúmulo total da pegada ecológica de cada país.

Explicando a negligência

Kopnina and Washington (2016) – Discussing why population growth is still ignored or denied

As preocupações sobre superpopulação são realmente “anti-pobres”, “anti-países em desenvolvimento” ou até “anti-humano” como alguns críticos argumentam? Afastando fatores demográficos das preocupações de sustentabilidade, pessoas ignoram os limites ecológicos da Terra, o bem-estar dos grupos mais vulneráveis, a prosperidade futura da humanidade e a qualidade dos ecossistemas que apoia suas sociedades.

Mora (2014) – Revisiting the environmental and socioeconomic effects of population growth: a fundamental but fading issue in modern scientific, public, and political circles

Este estudo examina como o assunto do crescimento populacional há sido minimizado e subestimado em círculos científicos. Devido a isso, há uma decrescência no interesse público sobre o assunto, e uma falta de vontade política de lidar com ele. Essa negligência vai ajudar a aumentar não somente os fatores de risco antropogénicos, mas também enfraquecer estratégias de reverter a perda de biodiversidade e aumentar o bem-estar humano.

Coole (2013) – Too many bodies? The return and disavowal of the population question

Por que há tanta hesitação em perguntar se há pessoas demais ou discutir políticas para reverter esse quadro? Cool identifica cinco discursos que afetam negativamente a disponibilidade de pessoas debaterem o tema criticamente.

Foreman (2007) – “Retreat on Population Stabilization” (The Rewilding Institute)

Por que conservacionistas e ambientalistas estão negligenciando assuntos populacionais? Foreman providencia um entendimento profundo no porquê do silêncio de ambientalistas acerca de assuntos populacionais depois dos anos 1970. Naquela época, era amplamente difundido os conceitos pro trás da necessidade de limitar a população humana. No artigo, ele foca principalmente em assuntos estadunidense, inclusive assuntos de imigração, da natureza humana e políticas de aborto.

 

Hans Rosling

Hans Rosling, um professor sueco do Instituto Karolinska, morreu em fevereiro de 2017, porém sua mensagem de complacência acerca de assuntos populacionais permanece na mídia e na internet. Sua mensagem precisa ser criticada, como nos seguintes artigos:

Artigo opinativo em um dos maiores jornais matinais da Suécia (Svenska Dagbladet 2015, traduzido para o inglês) aqui>>>

A crítica de Paul e Anne Ehrlich da apresentação estatística usada por Rosling aqui>>>

O comentário de Leon Kolankiewics, da organização Californians For Population Stabilization, aqui>>>

A crítica de Christian Berggren  do livro de Rosling, Factfulness. Christian mostra que o livro usa uma seleção específica de variáveis, evita uma análise de tendências negativas e não discute qualquer desafio sério acerca do crescimento populacional. Veja uma versão resumida aqui>>>

Veja também a publicação em nosso blog sobre Factfulness: Factfulness: A more accurate title for this new book would have been “Selecting Facts to Make You Happy
e também  Can the book “Factfulness” be improved?

 

A visão de Rosling sobre população é claramente explicitada, além de outros lugares, no filme de uma hora “Don’t Panic” (Não Entre em Pânico). Nos primeiros segundos do filme, são listados alguns problemas ambientais do planeta, quando ele diz “7 bilhões de pessoas moram no nosso planeta…não é lindo?” O que segue é uma tentativa de explicar que o crescimento populacional vai acabar por si só (não vai), por que podemos alimentar bilhões de pessoas a mais sem danificar a natureza (não podemos) e como o único problema ambiental no qual precisamos focar são aqueles que afetam o bem-estar humano. O foco antropocêntrico de Rosling é, talvez, o problema mais fundamental do filme. Os ecossistemas do mundo são mencionados somente indiretamente quando o assunto é a produção de comida ou outros recursos para os humanos. O colapso da biodiversidade no mundo nunca é mencionado. Não devemos comprar o otimismo ao custo do egoísmo humano. A humanidade pode ser melhor!

A visão de Rosling também é apresentada em seu livro póstumo: Factfulness: Ten Reasons We’re Wrong About the World–and Why Things Are Better Than You Think. Veja também a crítica de Population Matters: “Population ‘Factfulness’ – where Hans Rosling is wrong”.

 

Traduzido por Renato Whitaker